quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Felicidade Clandestina



"Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar...Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada."

Clarisce Lispector




Os contos são encatadores, as vezes tristes, densos e as mensagens sempre nas entrelinhas...A felicidade clandestina de Clarice Lispecto é uma história maravilhosa que mostra a esperança de uma menina que sonha em ler o livro de Monteiro Lobato e que sua "amiga" por ser filha de um dono de livraria tem essa obra em casa...e por pura maldade a faz ir todo os dias em sua casa para pegar o livro emprestado, mas ela sempre arranja uma desculpa e a faz voltar no outro dia...e a menina sonha, sonha muito em ler esse livro...ela não se importa em ir quantas vezes forem necessárias até chegar o dia em que sua colega a empretrará o tão sonhado livro...e essa maldade se estende até o dia em que a mãe de sua colega descobre a perversidade que a filha está fazendo com a colega e finalmente a obriga a emprestar o livro...


" Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter."

" Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo em êxtase puríssimo."
"Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com seu amante."




Não me atrevo a dizer que entendi a mensagem do conto como a autora assim o queria, mas não posso deixar de afirmar que fiz minha análise pessoal e pude extrair um significado muito nobre. Eu me identifiquei com essa menina que bate a porta com tanta sede pelo livro..tantas vezes eu bati a porta dos meus desejos e sonhos e eles foram adiados...quantas vezes tive que voltar e esperar por outra oportunidade e imaginar quando eu estivesse com meu "livro" nas mãos...um exemplo foi a minha faculdade...foi muito difícil conseguir realizar esse sonho...sempre estudei em colégios públicos, numa cidade pequena e precisei recuperar o tempo que não era pra ter perdido. Tive que aprender coisas que a muito tempo já era pra saber. E aliada a essa dificuldade estava a minha total instabilidade numa cidade que tantas vezes parecia não abiri as portas pra mim...Onde morar? Como pagar meu curso? como conseguir tempo para trabalhar e ainda ter disciplina pra estudar o necessário que a Universidade exigia? Muita solidão...Tantas vezes estudei sentada nas escadas do prédio porque não podia gastar energia da casa onde eu estava...Raramente um momento de lazer...(sempre deixei pra depois)...vivia na expectativa de um dia receber meu tão sonhado "livro"...Bati uma vez, bati duas, bati três e assim foram sete vezes em que tive que voltar e esperar pelo próximo ano, a próxima oportunidade...Como era difícil a volta...assim como era para essa menina do conto, que voltava tonta de decepção da casa da colega, ao perceber que não era aquele dia o tão sonhado momento para ter o livro em suas mãos....Foram tantos os motivos para eu ter voltado tantas vezes, não digo que eu não mereci...porque eu acredito que mereci sim, aprendi a ter mais disciplina, a ser mais forte, perseverante e ter paciência...e aprendi que a vida também as vezes é injusta...Temos que estar preparados para andar pelo caminho mais difícil enquanto vemos tantos pegaando atalhos...
Me proponho diariamente a não esquecer de nenhum detalhe que tive que percorrer para ter realizado meu objetivo...mas a felicidade clandestina insiste em fazer parte de mim.
...
Jucimeire Paiva

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